domingo

Juan Gelman morto

Anclao em Paris
De Juan Gelman - traduzido por mim em português de balcão

Sinto falta é do leão do zoológico, meu velho,
a gente sempre tomava café no Bois Du Boulogne,
me contava suas aventuras na Rodésia do Sul,
mas mentia, tava na cara que nunca tinha saído
do Saara.

De todo modo me encantava sua elegância,
sua maneira de dar de ombros diante da mesquinharia
da vida
olhava os franceses pela janela do café
e dizia “os idiotas fazem filhos”

Os dois ou três caçadores franceses que havia comido
provocavam más lembranças e uma ponta de tristeza,
“as coisas que a gente tem que fazer pra viver” refletia
olhando a cabeleira pelo espelho do café.

É, sinto falta dele,
não pagava o que bebia
Mas sugeria o valor da caixinha
E os garçons se despediam com um carinho orgulhoso

A gente se despedia na curva do poente,
ele voltava pro escritório, como dizia,
não sem antes me chamar a atenção, uma pata no meu ombro
“se cuida, meu filho, nessa noite de Paris”.

Ele faz falta, mesmo,
às vezes os olhos dele ficavam cheios de deserto
mas sabia se calar como um irmão
quando emocionado, emocionado,
eu falava pra ele sobre o Carlitos Gardel.

***

Anclao en Paris

Al que extraño es al viejo león del zoo, 
siempre tomábamos café en el Bois de Boulogne, 
me contaba sus aventuras en Rhodesia del Sur 
pero mentía, era evidente que nunca se había movido
del Sahara.

De todos modos me encantaba su elegancia, 
su manera de encogerse de hombros ante las 
pequeñeces de la vida,
miraba a los franceses por la ventana del café 
y decía "los idiotas hacen hijos".

Los dos o tres cazadores ingleses que se había
comido
le provocaban malos recuerdos y aun melancolía, 
"las cosas que uno hace para vivir" reflexionaba 
mirándose la melena en el espejo del café.

Sí, lo extraño mucho,
nunca pagaba la consumición,
pero indicaba la propina a dejar
y los mozos lo saludaban con especial deferencia.

Nos despedíamos a la orilla del crepúsculo, 
él regresaba a son bureau, como decía, 
no sin antes advertirme con una pata en mi
hombro 
"ten cuidado, hijo mío, con el París nocturno".

Lo extraño mucho verdaderamente, 
sus ojos se llenaban a veces de desierto 
pero sabía callar como un hermano 
cuando emocionado, emocionado, 
yo le hablaba de Garlitos Gardel.

Nenhum comentário:

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana