quarta-feira

ALGUMAS NOTAS SOBRE "BLADE RUNNER"

1- só tinha visto o filme com 4 anos de idade, passando no corujão. finalmente consegui sentar e rever.
2- muito interessante como a crença no futuro era barroca: tudo, até as paredes, é cheio de texturas e funcionalidades de forma abarrotada e arabesca; tudo é escuro e sobreposto. mas não me engano, não havia só essa tendência. o filme tenta se filiar a um imaginário punk. filmes mais antigos como "thx 1138" do george lucas já trazem a ideia de "futuro de sucesso" que se difunde hoje: tudo branco, poucas formas, tudo clean. a impressão que tenho é que o clean ou o barroco são quase uma questão de classe: clean para os ricos e para o poder, barroco e apocalipse para os pobres.
3- por outro lado é legal entender que a ideia de avanço tecnológico ali não previa o virtual. apenas o mecânico e o genético. daí algo como tudo ser um bicho sujo multifuncional e incompreensível.
4- mas têm estética nisso: nosso ideário clean atual continua tendo muitas engrenagens e máquinas e fios. a diferença é que preferimos construir carenagens pra tampar isso. ou seja: o mundo de "blade runner" poderia ser o nosso se aquela sociedade tivesse a vontade de construir "roupas" para os seus utensílios, assim como fazemos latarias para os carros e eletrodomésticos. Mas eles, como em uma ode à tecnologia, preferem deixar tudo à mostra.
5- em 2019, ali, ainda era tranquilo correr atrás da mina, trancar a porta antes que ela saísse e pegá-la à força. nem os replicantes tinham sossego. o mais interessante é que o filme transmite isso como: o homem sabe que a mulher quer, por isso ele a força e então vivem felizes até o fim. Que coisa triste. E que coisa recente um sentimento mais compartilhado de que isso é triste.
sigo matutando

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crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana