domingo

NOTAS SOBRE HUMOR, RESISTÊNCIA E MÚSICA


tô ouvindo o podcast do Luca Argel, é maneiro. foi dica do Thiago Gallego. É de música portuguesa atual, mas constela a música portuguesa toda que ele tem achado interessante. enquanto tocava uma música dos anos 1980, de uma banda de rock de lá, identifiquei algumas coisas. e resolvi fazer uma reflexão veloz e irresponsável. Vai pro Rafael Zacca também, porque tem pensado e feito humor. 1. apesar de ser dos 1980, a estrutura musical era a rockabilly, que é anos 1950. 2. a música era engraçadinha, parte dela era cantava por uma criança, que o vocalista mandava calar a boca e retomava o vocal. 3. nos anos 1980 nosso rock era muito humor tbm. é só pensar em blitz e ultraje a rigor. até paralamas com "óculos", por exemplo. se imaginarmos que o contexto era de fim de ditadura lá e aqui, tirei algumas conclusões que me desagradaram e me preocuparam. apesar de o juca chaves já fazer humor "político" antes, inclusive na época da canção de protesto no brasil, o humor entra firme, como linguagem talvez até hegemônica, nos anos 1980 por aqui. se olharmos a sucessão das escolas e linguagens marcantes canção feita nas décadas de ditadura que chega até nós, podemos imaginar: 1. 1960's a canção de protesto, revolucionária e de denúncia. 2. 1970's a canção depressão, a fossa toda, a filosofia dos mineiros e o desbunde místico ou festivo ou depressivo de novo de baianos, paraibanos e cearenses. 3. 1980's a música de rádio, Gil fazendo discoteca, caetano fazendo rock e o resto era rock praia, humor e filme de surfe. os titãs tavam ali nos 1980, tinha mais gente ali, legião também. claro que nos 1960 tinha jovem guarda que era louvação do motor e de uma juventude rock bosta engomadinha e pitbosta, mas como pensamento possível de revide, de propostas de fuga, era a nossa versão da canción protesta que tava valendo. e nos 1970 a mesma coisa, tinha um samba universitário politizado ali, mas nunca saiu dos subterrâneos. a galera escutava ivan lins, gonzaguinha e o fagner depois que se pasteurizou. e nos 1980 devia ter mais coisa interessante, eu que tô desatento. mas vale a hipótese: 1. a ideia era derrubar o regime, inclusive a partir da arte. 2. quando não deu veio a fossa e o desbunde, a negação de tudo, o epicurismo nosso. 3. quando ficou besta negar tudo, a moçada resolveu topar, só que sem se entregar completamente, ou até se entregando, mas tirando sarro de si mesmos por causa disso por o humor. 4. e ainda uma quarta preocupação, entrou a aparelhagem com força. em termos de textura muita coisa mudou, mas em estrutura musical, aqui se ousou pouco, né? ou tô falando só do mercado? aí levanto a lebre. apesar do humor que propunha o brecht, das murgas uruguaias, não será o humor um puto de um integrador? Ri aí um pouquinho enquanto a lama sobe, depois esquece. Não é complicado? Ou será que o humor era já porque a possibilidade de rir nos era dada já que o regime militar tava se desmontando, como um presságio?

Nenhum comentário:

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana